segunda-feira, 13 de maio de 2019

LADO B




Acredito que sempre devemos olhar o lado bom da vida, mas isso não significa que devemos negar as experiências vividas que não foram tão boas assim.

Escrevo este texto para relatar alguns momentos nada agradáveis relacionados à minha deficiência e que poucas pessoas do meu convívio social atual têm conhecimento.

Tomar morfina na veia para conseguir dormir por causa da dor de um pós-operatório de uma cirurgia doloridíssima feita para corrigir os meus pés e que, ao final, deu totalmente errado, foi uma das experiências mais traumáticas da minha vida, considerando todo o contexto envolvido que eu vou detalhar para vocês a partir de agora.

Eu com 15 anos, estava muito longe de compreender a noção exata de tudo que estava acontecendo e o que viria a acontecer. Embora já tivesse passado por uma grande cirurgia aos 11 anos (depois eu conto para vocês), eu me senti impotente diante de tanta dor física pela primeira vez.

A primeira noite pós-cirúrgica já foi um indício de que algo não ia bem. Eu, sem nenhum acompanhante por imposição do hospital, chorava de dor a noite inteira e via o gesso coberto de sangue e só conseguia dormir dopado por medicamentos injetados direto pelo soro, acordando horas depois gritando de dor.

Na manhã seguinte, quando vi a minha mãe, agarrei no braço dela e disse: “Você não sai do meu lado nunca mais”. Ao perguntar para a enfermeira como eu passei a noite minha mãe ouviu a seguinte resposta: “Foi tranquila” (emoj de raiva), mas a paciente da maca ao lado logo tratou de desmentir essa mentira deslavada. Não lembro quantos dias fiquei internado, só sei que não passei mais nenhum segundo naquele hospital sem ter ou o meu pai ou a minha mãe ao meu lado.

Foram três meses engessado e com consultas muito esporádicas e dores quase ininterruptas. Existem várias passagens bem sofridas nesse período, mas acho que não vem ao caso ser tão minucioso assim.

Depois de tirado o gesso, olhei para os meus pés cheios de cicatrizes e inchados e pensei: “parece que não mudou nada, continuam tortos do mesmo jeito”.

Muita fisioterapia depois, foi a hora de tentar ficar em pé com os “pés novos”. Não consigo colocar em palavras a dor sentida naquele momento, tanto física quanto emocional. Não consegui...

Algumas tentativas depois o meu organismo começou a rejeitar os 6 grampos de tungstênio colocados nos pés (3 em cada), o que levou ao cancelamento das tentativas de ficar em pé.

Esse foi o pós-operatório mais traumático que eu tive. Essa cirurgia foi completamente refeita 2 anos depois em São Paulo com um pós-operatório também difícil, mas nada comparado ao anterior. Hoje, meus pés estão retinhos e sem nenhum grampo e eu consigo ficar em pé com certa tranquilidade e sem nenhuma dor.

Confesso que foi bem difícil escrever este texto, mas foi bom remexer em coisas que estavam guardadas lá no fundo. Lembrar de momentos complicados ou tristes, muitas vezes, nos ajuda a valorizar nossas conquistas.

Pense nisso, mas não pense muito. Nosso passado não pode ser alterado, o presente é uma dádiva e o futuro está sendo construído neste exato momento.

Você também teve algum momento de dor intensa que foi transformado em aprendizado?

terça-feira, 16 de abril de 2019

ALEGRIA




Mais que um sentimento, alegria é um estado de espírito. As pessoas transbordam tudo aquilo que estão cheias por dentro e eu, particularmente, só tenho motivos para ser feliz.
Tenho uma família maravilhosa, amigos incríveis, um emprego muito bom, então eu te pergunto: Tem como não ser feliz com tudo isso? A resposta é simples: sim.
Tem uma letra de uma música que eu adoro que diz assim: “As vezes é mais fácil reclamar da sorte, do que na adversidade ser mais forte...”. Muitas vezes, a infelicidade do infeliz está onde ele focaliza a sua energia.
Todos temos momentos bons e ruis na vida e em todos eles nós e que decidimos como vamos reagir. Assisti a um filme recentemente em que a mãe fala para a filha cadeirante: “A cadeira de rodas pode ser a sua âncora ou as suas asas, você decide”. Eu já fiz a minha escolha, e você?
O que a gente faz, pensa, vê, fala e escuta influencia de forma direta em como nos sentimos.
Ser feliz é uma escolha, então fiquem atento as suas escolhas para não optar por algo que te leve para longe de seus sonhos e objetivos. Os filmes que você assiste, as músicas que você ouve, os livros que você lê falam mais sobre você do que você gostaria de admitir.
Agradecer traz muita felicidade e todos temos muitos motivos para sermos gratos, mas algumas pessoas insistem em focar no que não contribui e não agrega a nada. Vamos focar no bem, no amor, em ser grato?
Inveja, querer o que é do outro, querer que o outro diminua para ficar do seu tamanho são sentimentos muito perigosos, as vezes eles estão dentro de nós e nem percebemos.
Qual movimento você está fazendo em direção à sua felicidade? Uma dica: comece pela gratidão, mas gratidão não é apenas dizer “obrigado”, isso se chama educação. Gratidão é um sentimento que vem de dentro de você, do seu coração.
Refletindo sobre todos os sentimentos que habitam dentro de mim ultimamente, cheguei a interessante conclusão: sentir é um hábito. É preciso treinar para sentir e querer o bem.
Quantos abraços você já deu hoje? Agradeceu de forma sincera? Perdoou? Beijou? Falou que gosta?
Estas atitudes podem parecer simples, até banais, mas se não ficarmos atentos vamos enferrujando e fica cada vez mais difícil colocá-las em prática.
Ser feliz e alegre na maior parte da sua vida é uma escolha. Bora escolher ser feliz? Se estiver difícil fazer esta escolha fala comigo que eu te ajudo, combinado?
Abraço e até o próximo texto!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

DEFICIÊNCIA X HEROÍSMO





Peter Parker sempre foi um dos meus grandes amigos, desde a infância até os dias de hoje. Nele me identifiquei como um cara popular, exatamente por não ser popular e estar fora dos padrões.

 Um belo dia ele ganha poderes extraordinários e a partir daí ele põe uma máscara e um uniforme estiloso para combater o crime como o espetacular Homem-Aranha, ou seja, ele cria outra pessoa.

Assim como ele, Batman, Superman, entre tantos outros possuem uma vida dupla com a desculpa de proteger seus entes queridos, mas eu acredito que eles se protegem deles mesmos, afinal de contas ser herói 24 horas por dia é muito cansativo, e digo isso por experiência própria.

Em todos os casos citados pouquíssimas pessoas conhecem os dois lados de Peter, Clark e Bruce. Lois Lane e Mary Jane tem este privilégio e exatamente por isso conseguem enxergá-los por inteiro e os admiram pelo que eles realmente são e não pela imagem que os outros têm deles.

Eu, por outro lado, sou cadeirante em tempo integral e carrego comigo a imagem de “perfeição” e “pureza” de sentimentos imputadas a todas as pessoas com deficiência.

As pessoas com deficiência gozam de uma liberdade e de uma superproteção quando expõem suas opiniões que nem sempre é saudável. Eu tive uma criação muito “certinha” digamos assim, isso, junto com a imagem “pura” da pessoa com deficiência fizeram e fazem com que eu deixe de fazer/falar o que penso simplesmente para manter ou não arranhar essa imagem que os outros criaram ao meu respeito.

Acredito que isso aconteça com muita gente e tenho me policiado a esse respeito, expondo cada vez mais minhas vontades e opiniões. Isso vem sendo engrandecedor e revelador pra mim, tanto em relação ao meu autoconhecimento, quanto ao conhecimento de algumas pessoas que me cercam.

Eu sei que ninguém é verdadeiro 100% do tempo, mas vivemos em um momento em que as pessoas estão agindo mais para agradar as outras do que para se agradarem.

Seja mais você, goste mais de você do que dos outros, pois a opinião sobre você que mais importa é da pessoa que está lendo este texto.

Essa postura de agradar os outros e não a mim se refletia de maneira clara quando eu me interessava por uma amiga. Não me manifestava por medo de quebrar aquela imagem do “amiguinho cadeirante bonitinho”. Sei que muitas amigas que se interessavam por mim também não diziam nada exatamente por essa mesma imagem. Hoje em dia, minha postura é outra, se tenho interesse em alguém falo de forma direta e objetiva e espero que se tiver alguém interessada em mim que se manifeste (risos).

Eu tenho um banner gigante de uma foto minha com a Claudia Leitte no meu quarto e ele não vai sair de lá tão cedo, apesar das objeções de muitos, pois ele tem um significado muito maior pra mim do que a própria foto e a artista em si. Tenho um bonequinho do Homem-Aranha na minha mesa de trabalho, minha mãe me dá comida na boca em público em vários momentos.

O que mais ouço é que essas coisas me infantilizam e, talvez, isso até aconteça, mas eu prefiro que as pessoas criem essa imagem “errada” ao meu respeito do que passar vontade com essas coisas “banais”. Quem me conhece de verdade sabe que não tenho nada de infantil e que sou maduro o suficiente inclusive para aceitar isso com tranquilidade.

Eu não quero ser o herói de ninguém, mas acredito que isso não depende de mim, depende do que eu desperto nas pessoas que me olham. Uma coisa é certa: eu só posso ser o herói de alguém se eu for o meu próprio herói primeiro.

Seja o seu próprio herói. Se ame, se cuide, se entregue a você mesmo. Aceite-se como você é, pois não tem sentido você mentir pra si mesmo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

RECOMEÇOS




Escrevo esse texto atendendo a um pedido da minha querida amiga Cintia e também porque achei super apropriado para a volta do blog.

Recomeçar pra mim tem tantos significados que nem sei por onde começar. Recomeçar depois de uma vitória, de uma derrota, de um sucesso, de um fracasso, de um ganho, de uma perda, ou simplesmente dar continuidade?

Todos nós passamos por momentos chave e em grande parte nós decidimos como vamos reagir a eles. Ter limitações físicas para mim sempre foi algo tão natural que fazer uma cirurgia aos 5/6 anos outra aos 12/13, mais uma aos 15 e a última aos 18 não representaram grandes momentos.

Hoje, com quase 40 anos, talvez eu entenda o real significado destes momentos em minha trajetória, mas isto é assunto para um texto futuro. Os momentos chave mais importantes pra mim tem relação com as minhas interações sociais e é delas que eu vou falar um pouquinho agora.

A primeira interação social que a maioria das pessoas tem é com a família e ela é fundamental para todas as outras que vem a seguir. No meu caso, eu não consigo imaginar relação melhor com a minha. Tivemos e continuamos tendo erros, acertos, brigas, festas, mas temos o mais importante de tudo, amor, e quando falo amor é aquele verdadeiro que elogia e protege, mas que também critica e aponta erros quando é o caso. Esse foi um grande começo para os diversos recomeços que viriam a seguir.

A escola é um grande (re)começo das interações pessoais, nas quais já trazemos a bagagem acumulada com as relações familiares. Por ter o meu lado cognitivo preservado sempre estudei em escolas “normais”. Imagino como ficou o coração dos meus pais no meu primeiro dia de aula. Não lembro deste dia exatamente, mas toda a minha vida escolar/acadêmica transcorreu na mais perfeita tranquilidade até o momento de um convite para dormir na casa de um amiguinho, uma noite do pijama na escola ou uma viagem com a turma.

Lembro de 3 momentos desses: a noite do pijama na escola era pra ser o grande evento, a primeira noite que eu iria dormir “sozinho” fora de casa. Lembro da minha expectativa e ansiedade assim como a dos meus pais, mas a frustração foi do tamanho da minha expectativa, pois no momento em que estava me arrumando pra ir levei um tombo e desmaiei. Experiência adiada.

Viajar com a turma da escola levando uma pessoa comigo para me auxiliar foi uma experiência incrível, mas quando meu pai foi me levar em uma festa de uma amiga/paquera e me comunicou que ia ficar na festa comigo eu já não fiquei tão confortável, apesar de compreender a necessidade.
 Sempre vou viver o dilema “Independência x Segurança”

Claro que não foram só estas experiências, mas em todas elas o recomeço foi necessário, pois compreender que se é diferente naquela idade exigiu uma série de “recomeços” da maneira de pensar e olhar a vida.

Se apaixonar exige recomeços, manter-se apaixonado então nem se fala, um novo trabalho, manter-se motivado no trabalho, na dieta, na academia, em quase tudo na vida recomeçamos, mas nunca se recomeça do zero sempre existe algo que se aprendeu, se evoluiu, se cresceu de uma experiência que “não deu certo”. Então não tenha medo de tentar outra vez, fazer de novo, se entregar novamente. Com certeza você não é a mesma pessoa da primeira tentativa.

Nos últimos anos. tive começos e recomeços marcantes na minha vida, dois relacionamentos, uma atividade esportiva e mais recentemente uma nova atividade no trabalho, em todas elas tive medo, mas uma coisa que aprendi foi que a vontade de “ganhar” tem que ser sempre maior que o medo de “perder”.

Sabe aquele papo de “o não você já tem”? Pois é, quando você deixa de fazer algo o “não” é a única coisa que você terá. Não crescer, não evoluir, não amadurecer.

Tenho lutado para sair da minha zona de conforto, pois sempre me protegi e fui protegido de muitas situações pela minha condição física e posso garantir que todas as vezes valeu muito a pena, nem que seja para aprender como não fazer/agir.

Sempre vale a pena recomeçar/continuar e se você duvidar disso, duvide da sua dúvida e recomece mais uma vez.



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

SER CADEIRANTE É







Confesso que começo esse texto um pouco decepcionado, pois percebi que muitas pessoas próximas têm uma visão negativa sobre o que é ser cadeirante. Então a ideia deste texto é esclarecer algumas coisas e expor a minha visão sobre o tema.

Eu poderia começar dizendo, por exemplo, que ser cadeirante é ter sempre um colinho para oferecer para quem precisar, é ter sempre onde sentar por mais que o local esteja lotado, é despertar sentimentos, na maioria das vezes, bons nas pessoas. De um modo geral, eu costumo dizer que ser cadeirante é ter uma visão diferente do mundo.

Não sou nem melhor nem pior do que ninguém, tenho qualidades, defeitos, sonhos, virtudes, erros, acertos, como qualquer outra pessoa, mas passo por tudo isso sobre rodas e, sem hipocrisia nenhuma, muitas vezes agradeço a Deus por isso, pois tal condição desperta em mim sentimentos e olhares que talvez eu jamais teria.

Em que outra condição eu valorizaria o fato de sentar sozinho, de colocar uma camisa, dentre tantas outras coisas “insignificantes”? Valorizar essas coisas é algo simplesmente maravilhoso, mas não é só isso.

 A roda é uma das maiores invenções do homem e eu não poderia estar mais de acordo com tal afirmação, pois ela possibilitou dentre inúmeras outras coisas a invenção da cadeira de rodas. Essa parceira que me acompanha praticamente a vida inteira em todos os momentos, me leva pra onde eu quiser ir. A partir dos meus 15 anos, ela ganhou um motor, nunca me senti tão livre. Se eu conquistei tudo o que eu conquistei na vida foi também porque ela me deu condições para isso, então aquela expressão “preso a uma cadeira de rodas” pra mim não faz o menor sentido.

Me sinto preso sim a uma sociedade deficiente e preconceituosa em diversos aspectos (acessibilidade por exemplo), sendo a pior das deficiências a atitudinal, mudando a atitude das pessoas o resto é consequência.   Como tudo na vida, equilíbrio é fundamental. Se você vê uma pessoa em dificuldade você oferece ajuda sendo ela cadeirante ou não, o problema ocorre quando se ajuda um cadeirante com o sentimento de dó ou pena por um pré conceito de quem está ajudando por imaginar que a pessoa que está sendo ajudada sofre e se lamenta por uma deficiência que nem é dela e sim da sociedade. O oposto também é complicado. Você cobrar de um cadeirante um desempenho igual ou superior a uma pessoa “normal” para dizer que não tem preconceito chega a ser burrice, lógico que estou me referindo a aspectos nos quais a deficiência faz diferença, nos demais a cobrança tem que ser a mesma, pois isso é saudável para todos os envolvidos.

Agora me digam “Vocês acham que eu teria essa visão de mundo se eu não fosse cadeirante?”. Provavelmente não, e ter essa visão de mundo não é maravilhoso?

Outro dia conversando com uma querida amiga sobre aborto ela disse mais ou menos o seguinte “Acho complicado homens falarem sobre aborto com propriedade porque nunca vão vivenciar uma gravidez vinda de um estupro, assim como é complicado pra mim falar sobre como é ser cadeirante sem ser”. Não vou entrar na polêmica do aborto, o que eu quero dizer é que eu sei que é muito difícil se colocar no lugar do outro e o ideal para tentar amenizar essa dificuldade seria se as pessoas tivessem a mente aberta como a de uma criança que não tem dentro de si os preconceitos de uma sociedade deficiente e tem a mente aberta e livre de verdades pré estabelecidas. As crianças questionam, perguntam, são curiosas. Eu prefiro mil vezes adultos curiosos como as crianças do que pessoas com medo de questionar por medo de ofender um cadeirante e por isso preferem ficar com suas “verdades inabaláveis”.

Eu gostaria que você que está lendo este texto respondesse uma pergunta da forma mais sincera e honesta que você conseguir “O que eu posso fazer que um cadeirante não pode?”. Depois de responder essa pergunta de forma verdadeira procure saber se sua resposta é verdade ou não. Eu posso te responder se você quiser, mas se não quiser te peço apenas que você confirme se o que você acha é verdade ou não. Te garanto que você vai se surpreender.

Existem muitas e muitas coisas a se falar sobre o que é ser cadeirante, assim como sobre qualquer pessoa, então reflita, pense e questione tudo o que você puder sobre o que é ser cadeirante, claro se você não for um e tenha a mente aberta para o novo.

Concluindo, afirmo que ser cadeirante é maravilhoso, gratificante e extremamente engrandecedor. Espero ter conseguido nestas breves palavras transmitir este sentimento, e para você que mesmo assim ainda subestima a capacidade de uma pessoa pela sua condição física, te digo que a única deficiência que importa não está nela e sim em você.


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

(IN)DEPENDÊNCIA

Esse fim de semana (21 e 22 de agosto) participei de dois eventos sociais: Na sexta, a despedida de um colega de trabalho e no sábado o SambaBrasília e nos dois eu fui sozinho, até ai nenhuma novidade, mesmo porque estou acostumado e me viro relativamente bem (apesar de algumas pessoas acharem que sou de vidro e vou quebrar), porém para um cadeirante ser independente é necessário que se tenham condições para isso.

No evento de sexta (21) fomos ao Stedt Bier, um local super agradável, acessível, com espaços entre as mesas e com um banheiro top para cadeirantes, com isso vocês vão concordar comigo que ser INdependente é mais fácil, só pra vocês saberem, minha irmã me deixou lá depois do trabalho e voltei pra casa de carona com uma amiga. No dia seguinte não dei tanta sorte assim no meu objetivo de ser um cara INdependente.

O SambaBrasília é um evento de números grandiosos, artistas renomados, tudo muito bonito e se você perguntar provavelmente ninguém ali presente (público, artistas, seguranças, organizadores) vai falar que não é preciso ter uma rampa para um cadeirante ir ao BANHEIRO, mas o fato é que não tinha, no lugar da rampa um meio fio gigantesco como vocês podem ver no vídeo abaixo.







O que esses caras pensam? Das duas uma, ou eles imaginam que nenhum cadeirante vai esse tipo de evento, ou pensam que cadeirante não mija, então, queridos responsáveis por tal cena, eu os informo que eu sou um cadeirante pagodeiro e que gosta de tomar minha cervejinha de vez em quando, portanto eu vou a esse tipo de evento e não vou deixar de ir. Vocês já me tiram tanta coisa com essas atitudes, não vou deixar que me tirem a possibilidade de estar com os meus amigos e curtir os shows que eu gosto. AQUI PRA VOCÊS!!!!

Vocês devem estar se perguntando "Como você foi ao banheiro?" . No meio do evento mesmo, um cantinho escuro e mais reservado, fazer o que? Não posso amarrar meu "amigão". 

Nesse caso acho que vocês também vão concordar comigo que ser INdependente é um pouco mais complicado

Eu falei tudo isso para chegar a seguinte questão, "Quem são as pessoas que poderiam/deveriam se preocupar com a acessibilidade e não o fazem?" No caso do SambaBrasília os responsáveis são os organizadores do evento, ou seja a empresa R2Produções que vem ignorando a presença de cadeirantes em seus eventos, mas eu já ouvi de dono de bar que ele não ia colocar um banheiro adaptado porque com isso ele teria que diminuir o número de mesas para seus clientes. Não preciso falar o nome do estabelecimento porque ele já fechou, porque será?

Outro fato que me deixou estarrecido foi a taxa extra cobrada por escolas particulares para aceitarem alunos com deficiência. Deixa eu ver se entendi, os caras estão dizendo "Nós somos muito preconceituosos, mas pagando a gente aceita tudo". Vão ser hipócritas assim lá na PQP. E o pior é que se você perguntar nenhum zé mané que propôs tal absurdo vai assumir que fez isso.

Diante de tais fatos podemos concluir que todo mundo acha lindo um cadeirante INdependente,desde que não dependa de mim ou não mexa no meu bolso. Solução para isso é bem simples: Cumpram-se as leis, já que esses caras só entendem as coisas quando sentem na parte mais sensível do corpo, "o bolso", taca-lhe multa nesses caras.

Desculpem o desabafo, mas tem hora que é bem complicado


    

terça-feira, 21 de julho de 2015

COMO SERIA?

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A idéia deste post surgiu a partir do vídeo no link abaixo



Para ser sincero com vocês eu nunca parei para fazer essa reflexão de "Como seria minha vida sem a paralisia cerebral?", até por acha-la meio inútil, mas eu acho que ela tem alguma contribuição para o meu amadurecimento pessoal. Acho que antes de se perguntar "Como seria?" existe uma pergunta mais importante e mais reveladora a ser feita: "O que sobra de mim sem a minha deficiência?". Essa ai eu já respondi uma dezena de vezes e confesso pra vocês que a resposta muda toda vez. Vou compartilhar com vocês agora como penso hoje em dia sobre o tema e o porque de tantas mudanças, e depois vamos ao exercício de imaginação à que se propõe este texto, ok?

Acabo de assistir ao filme "O 1º da Classe" em que o protagonista tem uma síndrome rara que o faz fazer barulhos esquisitos e ter "tiques" involuntários. Quando ele recebe um prêmio por ser reconhecido como o melhor professor da região, isso mesmo ele se tornou professor mesmo com a síndrome, ele faz um discurso agradecendo à todas as pessoas queridas e tal, mas agradece principalmente à sua síndrome por tê-lo ajudado a se tornar a pessoa que ele é. Eu penso da mesma forma.

A deficiência maximiza em mim algumas características inerentes a minha pessoa, mas que talvez ficariam escondidas se não fosse essa minha condição, e quando falo de características falo das boas e das ruins, vou exemplificar: Não sou um cara de briga, prefiro aceitar algumas coisas, mesmo sabendo que estão erradas, para evitar discussões. Essa característica, como tudo na vida, tem um lado bom e outro ruim, ela muitas vezes trás paz a mim e a quem está ao meu redor, mas por outro lado me torna uma pessoa acomodada, que aceita tudo da maneira mais cômoda, mesmo não sendo exatamente o que eu desejo.

Ai vem a pergunta "Eu seria assim se eu fosse uma pessoa "normal"?". Com certeza seria da paz, pois fui educado pra ser assim, mas talvez menos acomodado para correr atrás das minhas coisas. Sempre tive tudo na mão com muita facilidade e todos se encantam em ajudar una criança em uma cadeira de rodas, então eu demorei um pouco para ter aquele gostinho especial da conquista pelo próprio esforço, estão curiosos? Eu tenho muito orgulho de ter conquistados meus dois empregos na vida (8 anos na TAM Linhas Aéreas e até hoje servidor concursado do MPU) sozinho, sem favorzinho de ninguém.

Será que as pessoas seriam tão benevolentes com meus erros e tão empolgadas com meus acertos caso eu não fosse cadeirante? Não sei, o que sei é que seria diferente tanto pra mim quanto para as pessoas a minha volta, olhar as pessoas nos olhos é um detalhe que ficaria mais fácil. Isso pode parecer uma besteira, mas que gera um sentimento de igualdade a isso gera.

Se não fosse a deficiência talvez eu não conheceria pessoas incríveis como minha melhor amiga (fisioterapeuta), talvez minhas irmãs não teriam descoberto suas profissões que tanto amam (uma é fisioterapeuta e outra é fonoaudióloga), ou seja, minhas relações também iriam mudar.

Uma afirmação que sempre escuto é a de que pra mim é mais fácil aceitar as minhas limitações pelo fato de sempre ter convivido com elas, diferente das pessoas que adquiriram esse presente (sim eu estou falando da deficiência) durante a sua trajetória de vida, pois estas experimentaram uma vida sem limitações e a "perderam" de uma hora pra outra. Eu entendo tal ponto de vista, porém se me perguntarem se gostaria de andar por um período de tempo e depois voltar para minha eterna companheira (cadeira de rodas) a resposta é óbvia. Seria tipo aquelas pessoas que optam por viver por um tempo de maneira completamente diferente da que estão acostumados em busca de crescimento pessoal.

Como dito no começo do texto, essas reflexões servem apenas para um amadurecimento pessoal, tanto que relutei bastante em dividi-las com vocês, pois fiquem com medo de acharem que eu sofro de alguma maneira por ser cadeirante, o realmente não é o caso, sofro sim pela falta de acessibilidade, não de lugares, mas sim de pessoas. Faltam pessoas acessíveis no "mercado", mas isso é assunto para um outro post.

Valeu galera até a próxima.