terça-feira, 21 de julho de 2015

COMO SERIA?

.
A idéia deste post surgiu a partir do vídeo no link abaixo



Para ser sincero com vocês eu nunca parei para fazer essa reflexão de "Como seria minha vida sem a paralisia cerebral?", até por acha-la meio inútil, mas eu acho que ela tem alguma contribuição para o meu amadurecimento pessoal. Acho que antes de se perguntar "Como seria?" existe uma pergunta mais importante e mais reveladora a ser feita: "O que sobra de mim sem a minha deficiência?". Essa ai eu já respondi uma dezena de vezes e confesso pra vocês que a resposta muda toda vez. Vou compartilhar com vocês agora como penso hoje em dia sobre o tema e o porque de tantas mudanças, e depois vamos ao exercício de imaginação à que se propõe este texto, ok?

Acabo de assistir ao filme "O 1º da Classe" em que o protagonista tem uma síndrome rara que o faz fazer barulhos esquisitos e ter "tiques" involuntários. Quando ele recebe um prêmio por ser reconhecido como o melhor professor da região, isso mesmo ele se tornou professor mesmo com a síndrome, ele faz um discurso agradecendo à todas as pessoas queridas e tal, mas agradece principalmente à sua síndrome por tê-lo ajudado a se tornar a pessoa que ele é. Eu penso da mesma forma.

A deficiência maximiza em mim algumas características inerentes a minha pessoa, mas que talvez ficariam escondidas se não fosse essa minha condição, e quando falo de características falo das boas e das ruins, vou exemplificar: Não sou um cara de briga, prefiro aceitar algumas coisas, mesmo sabendo que estão erradas, para evitar discussões. Essa característica, como tudo na vida, tem um lado bom e outro ruim, ela muitas vezes trás paz a mim e a quem está ao meu redor, mas por outro lado me torna uma pessoa acomodada, que aceita tudo da maneira mais cômoda, mesmo não sendo exatamente o que eu desejo.

Ai vem a pergunta "Eu seria assim se eu fosse uma pessoa "normal"?". Com certeza seria da paz, pois fui educado pra ser assim, mas talvez menos acomodado para correr atrás das minhas coisas. Sempre tive tudo na mão com muita facilidade e todos se encantam em ajudar una criança em uma cadeira de rodas, então eu demorei um pouco para ter aquele gostinho especial da conquista pelo próprio esforço, estão curiosos? Eu tenho muito orgulho de ter conquistados meus dois empregos na vida (8 anos na TAM Linhas Aéreas e até hoje servidor concursado do MPU) sozinho, sem favorzinho de ninguém.

Será que as pessoas seriam tão benevolentes com meus erros e tão empolgadas com meus acertos caso eu não fosse cadeirante? Não sei, o que sei é que seria diferente tanto pra mim quanto para as pessoas a minha volta, olhar as pessoas nos olhos é um detalhe que ficaria mais fácil. Isso pode parecer uma besteira, mas que gera um sentimento de igualdade a isso gera.

Se não fosse a deficiência talvez eu não conheceria pessoas incríveis como minha melhor amiga (fisioterapeuta), talvez minhas irmãs não teriam descoberto suas profissões que tanto amam (uma é fisioterapeuta e outra é fonoaudióloga), ou seja, minhas relações também iriam mudar.

Uma afirmação que sempre escuto é a de que pra mim é mais fácil aceitar as minhas limitações pelo fato de sempre ter convivido com elas, diferente das pessoas que adquiriram esse presente (sim eu estou falando da deficiência) durante a sua trajetória de vida, pois estas experimentaram uma vida sem limitações e a "perderam" de uma hora pra outra. Eu entendo tal ponto de vista, porém se me perguntarem se gostaria de andar por um período de tempo e depois voltar para minha eterna companheira (cadeira de rodas) a resposta é óbvia. Seria tipo aquelas pessoas que optam por viver por um tempo de maneira completamente diferente da que estão acostumados em busca de crescimento pessoal.

Como dito no começo do texto, essas reflexões servem apenas para um amadurecimento pessoal, tanto que relutei bastante em dividi-las com vocês, pois fiquem com medo de acharem que eu sofro de alguma maneira por ser cadeirante, o realmente não é o caso, sofro sim pela falta de acessibilidade, não de lugares, mas sim de pessoas. Faltam pessoas acessíveis no "mercado", mas isso é assunto para um outro post.

Valeu galera até a próxima.
 



2 comentários:

  1. Esse questionamento está presente em todos nós. Estamos sempre visualizando o "como seria". Alguns queriam nascer em berço de ouro, outros queriam ter tomado decisões diferentes, outros culpam os pais por serem o que são e o mais importante de convivermos com essa angústia é simplesmente aceitarmos como nós somos identificando nossos pontos fortes e fracos. O mais importante é nos preocuparmos em nos conhecermos bem e assim atingirmos os nossos sonhos. Não te contei o final da minha história sobre o curso de administração que eu fui impedida de fazer, mas hoje vejo a minha vida e penso: "Ser publicitária é demais e eu tenho o mundo em minhas mãos!".

    ResponderExcluir
  2. Esses questionamentos sempre surgem quando estamos em momentos difíceis. "Como seria?", sempre quando não estamos satisfeitos com um determinado momento da nossa vida. Mas se estamos bem, nem pensamos em como seria se nossas escolhas fossem outras.
    Poderia me perguntar, como seria se eu não fosse careca? Como seria se eu não tivesse a experiência de ser pai? Enfim, hoje eu me pergunto, como seria se eu não tivesse conhecido o Roger?
    Eu com certeza não teria a oportunidade de aprender sobre a alegria de viver sem inventar desculpas.

    ResponderExcluir