Acredito que sempre devemos olhar o lado bom da vida,
mas isso não significa que devemos negar as experiências vividas que não foram
tão boas assim.
Escrevo este texto para relatar alguns momentos nada
agradáveis relacionados à minha deficiência e que poucas pessoas do meu
convívio social atual têm conhecimento.
Tomar morfina na veia para conseguir dormir por causa
da dor de um pós-operatório de uma cirurgia doloridíssima feita para corrigir
os meus pés e que, ao final, deu totalmente errado, foi uma das experiências
mais traumáticas da minha vida, considerando todo o contexto envolvido que eu
vou detalhar para vocês a partir de agora.
Eu com 15 anos, estava muito longe de compreender a
noção exata de tudo que estava acontecendo e o que viria a acontecer. Embora já
tivesse passado por uma grande cirurgia aos 11 anos (depois eu conto para
vocês), eu me senti impotente diante de tanta dor física pela primeira vez.
A primeira noite pós-cirúrgica já foi um indício de que
algo não ia bem. Eu, sem nenhum acompanhante por imposição do hospital, chorava
de dor a noite inteira e via o gesso coberto de sangue e só conseguia dormir
dopado por medicamentos injetados direto pelo soro, acordando horas depois
gritando de dor.
Na manhã seguinte, quando vi a minha mãe, agarrei no
braço dela e disse: “Você não sai do meu lado nunca mais”. Ao perguntar para a
enfermeira como eu passei a noite minha mãe ouviu a seguinte resposta: “Foi
tranquila” (emoj de raiva), mas a paciente da maca ao lado logo tratou
de desmentir essa mentira deslavada. Não lembro quantos dias fiquei internado,
só sei que não passei mais nenhum segundo naquele hospital sem ter ou o meu pai
ou a minha mãe ao meu lado.
Foram três meses engessado e com consultas muito
esporádicas e dores quase ininterruptas. Existem várias passagens bem sofridas
nesse período, mas acho que não vem ao caso ser tão minucioso assim.
Depois de tirado o gesso, olhei para os meus pés
cheios de cicatrizes e inchados e pensei: “parece que não mudou nada,
continuam tortos do mesmo jeito”.
Muita fisioterapia depois, foi a hora de tentar ficar
em pé com os “pés novos”. Não consigo colocar em palavras a dor sentida naquele
momento, tanto física quanto emocional. Não consegui...
Algumas tentativas depois o meu organismo começou a
rejeitar os 6 grampos de tungstênio colocados nos pés (3 em cada), o que levou
ao cancelamento das tentativas de ficar em pé.
Esse foi o pós-operatório mais traumático que eu tive.
Essa cirurgia foi completamente refeita 2 anos depois em São Paulo com um
pós-operatório também difícil, mas nada comparado ao anterior. Hoje, meus pés
estão retinhos e sem nenhum grampo e eu consigo ficar em pé com certa
tranquilidade e sem nenhuma dor.
Confesso que foi bem difícil escrever este texto, mas
foi bom remexer em coisas que estavam guardadas lá no fundo. Lembrar de
momentos complicados ou tristes, muitas vezes, nos ajuda a valorizar nossas
conquistas.
Pense nisso, mas não pense muito. Nosso passado não
pode ser alterado, o presente é uma dádiva e o futuro está sendo construído
neste exato momento.
Você também teve algum momento de dor intensa que foi
transformado em aprendizado?
Realmente, não podemos ficar presos nas experiências ruins, pois podem nos impedir de tentar coisas novas. Se você não tivesse superado o medo, não teria feito a cirurgia posterior, que lhe trouxe mais qualidade de vida. Parabéns por tentar de novo e conseguir vencer!
ResponderExcluirNinguém imagina que você com esse astral tão bom tenha passado por momentos tão doloridos.Cada dia eu me surpreendo mais contigo!
ResponderExcluirVocê é um exemplo de vida ! Agradeço a Deus por tê-lo ao meu lado e principalmente por me fazer dar valor nas "pequenas" coisas que a vida tem me oferecido.
ResponderExcluirParabéns pela superação!
Parabéns Roger pelo belo texto...que Deus renove sua esperanças e suas forças para cada dia de sua jornada....Raquel (bocha)
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