Confesso que começo esse texto um pouco decepcionado, pois percebi que
muitas pessoas próximas têm uma visão negativa sobre o que é ser cadeirante.
Então a ideia deste texto é esclarecer algumas coisas e expor a minha
visão sobre o tema.
Eu poderia começar dizendo, por exemplo, que ser cadeirante é ter sempre
um colinho para oferecer para quem precisar, é ter sempre onde sentar por mais
que o local esteja lotado, é despertar sentimentos, na maioria das vezes, bons
nas pessoas. De um modo geral, eu costumo dizer que ser cadeirante é ter uma
visão diferente do mundo.
Não sou nem melhor nem pior do que ninguém, tenho qualidades, defeitos,
sonhos, virtudes, erros, acertos, como qualquer outra pessoa, mas passo por
tudo isso sobre rodas e, sem hipocrisia nenhuma, muitas vezes agradeço a Deus
por isso, pois tal condição desperta em mim sentimentos e olhares que talvez eu
jamais teria.
Em que outra condição eu valorizaria o fato de sentar sozinho, de
colocar uma camisa, dentre tantas outras coisas “insignificantes”? Valorizar
essas coisas é algo simplesmente maravilhoso, mas não é só isso.
A roda é uma das maiores
invenções do homem e eu não poderia estar mais de acordo com tal afirmação,
pois ela possibilitou dentre inúmeras outras coisas a invenção da cadeira de
rodas. Essa parceira que me acompanha praticamente a vida inteira em todos os
momentos, me leva pra onde eu quiser ir. A partir dos meus 15 anos, ela ganhou
um motor, nunca me senti tão livre. Se eu conquistei tudo o que eu conquistei
na vida foi também porque ela me deu condições para isso, então aquela
expressão “preso a uma cadeira de rodas” pra mim não faz o menor sentido.
Me sinto preso sim a uma sociedade deficiente e preconceituosa em
diversos aspectos (acessibilidade por exemplo), sendo a pior das deficiências a
atitudinal, mudando a atitude das pessoas o resto é consequência. Como tudo na vida, equilíbrio é fundamental.
Se você vê uma pessoa em dificuldade você oferece ajuda sendo ela cadeirante ou
não, o problema ocorre quando se ajuda um cadeirante com o sentimento de dó ou
pena por um pré conceito de quem está ajudando por imaginar que a pessoa que
está sendo ajudada sofre e se lamenta por uma deficiência que nem é dela e sim
da sociedade. O oposto também é complicado. Você cobrar de um cadeirante um
desempenho igual ou superior a uma pessoa “normal” para dizer que não tem
preconceito chega a ser burrice, lógico que estou me referindo a aspectos nos
quais a deficiência faz diferença, nos demais a cobrança tem que ser a mesma,
pois isso é saudável para todos os envolvidos.
Agora me digam “Vocês acham que eu teria essa visão de mundo se eu não
fosse cadeirante?”. Provavelmente não, e ter essa visão de mundo não é
maravilhoso?
Outro dia conversando com uma querida amiga sobre aborto ela disse mais
ou menos o seguinte “Acho complicado homens falarem sobre aborto com
propriedade porque nunca vão vivenciar uma gravidez vinda de um estupro, assim
como é complicado pra mim falar sobre como é ser cadeirante sem ser”. Não vou
entrar na polêmica do aborto, o que eu quero dizer é que eu sei que é muito
difícil se colocar no lugar do outro e o ideal para tentar amenizar essa
dificuldade seria se as pessoas tivessem a mente aberta como a de uma criança
que não tem dentro de si os preconceitos de uma sociedade deficiente e tem a
mente aberta e livre de verdades pré estabelecidas. As crianças questionam,
perguntam, são curiosas. Eu prefiro mil vezes adultos curiosos como as crianças
do que pessoas com medo de questionar por medo de ofender um cadeirante e por
isso preferem ficar com suas “verdades inabaláveis”.
Eu gostaria que você que está lendo este texto respondesse uma pergunta
da forma mais sincera e honesta que você conseguir “O que eu posso fazer que um
cadeirante não pode?”. Depois de responder essa pergunta de forma verdadeira
procure saber se sua resposta é verdade ou não. Eu posso te responder se você
quiser, mas se não quiser te peço apenas que você confirme se o que você acha é
verdade ou não. Te garanto que você vai se surpreender.
Existem muitas e muitas coisas a se falar sobre o que é ser cadeirante,
assim como sobre qualquer pessoa, então reflita, pense e questione tudo o que
você puder sobre o que é ser cadeirante, claro se você não for um e tenha a mente
aberta para o novo.
Concluindo, afirmo que ser cadeirante é maravilhoso, gratificante e
extremamente engrandecedor. Espero ter conseguido nestas breves palavras
transmitir este sentimento, e para você que mesmo assim ainda subestima a
capacidade de uma pessoa pela sua condição física, te digo que a única
deficiência que importa não está nela e sim em você.
Ótimo texto! É exatamente isso. E respondendo a sua pergunta, para mim só o que falta, tanto para cadeirante ou para qualquer pessoa com deficiência, é a acessibilidade. No dia em que os pcd's forem vistos como iguais a acessibilidade será natural.
ResponderExcluir“O que eu posso fazer que um cadeirante não pode?”
ResponderExcluirMeu caro, lembra de nossas aulas sobre filosofia na faculdade de Direito?
Lendo seu texto lembrei de uma figura fictícia, cadeirante, de uma história que nós dois gostamos, os X-Men.
O professor Xavier é um arquétipo interessante, pois é um cadeirante, mas seus poderes são praticamente incomparáveis com qualquer um dos outros personagens.
É considerado uma das mentes mais brilhantes e seu carisma o faz liderar um grupo de jovens que também se sentem rejeitados pela sociedade (por suas características físicas). Sua luta por uma sociedade mais justa e empática é constante.
Enfim... Xavier mostra que o verdadeiro poder está em certos aspectos que muitos não conseguem sequer perceber. E até pouco tempo atrás tinhamos uma figura real que estipulava novos limites no campo das ideias.
“O que eu posso fazer que um cadeirante não pode?”
Onde conta, no campo das ideias e do espirito acho que nada. E para mim, particularmente é onde conta.
abraço
Parabéns pelo texto brother, você conseguiu sintetizar muito sobre as vivências sobre rodas e também parabéns pela atitude de voltar a escrever sobre o tema que tanto disperta curiosidade nas pessoas, um forte abraço!!
ResponderExcluirParabéns Robinho! Fantastico!👏👏
ResponderExcluirQuerido Roginho, que orgulho dessa iniciativa. Gratidão por compartilhar neste blog um pouco da sua vida com a gente. Quanta grandeza! Hoje lhe digo que nada mais é impossível! Convivo com PNE diariamente e não existem limites, seja pelas tecnologias alcançadas ou pela nossa mente que nos possibilita irmos além. Eu não faço nada que um cadeirante não pode! Tudo é possível com os recursos certos investidos de maneira certa. Vamos em frente que o grande dia é HOJE!
ResponderExcluirRogito meu jovem, se tirar os dois milhões de prédios que não tem rampa ou qualquer tipo de acessibilidade, acho que tudo que eu faço você também pode fazer, mas você tem uma autonomia de bateria maior que a minha hehehehe. Grande abraço irmão.
ResponderExcluirAdorei irmão! Mandou muito bem! É importante esse esclarecimento pras nós e todos. Beijão
ResponderExcluirQue forma Bela de passar pra pessoas esclarecimentos tão ricos!!! Parabéns Meu garoto !!!
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