segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

EU E ELA

 Muitas vezes quando leio matérias com cadeirantes vejo frases do tipo " Estou preso à essa cadeira de rodas" ou "Apesar de ser cadeirante sou feliz". Eu confesso que quando isso acontece me sinto mal, como se eu tivesse alguma doença ou algum tipo de carma que vou levar a vida inteira.

 Embora compreenda esse tipo de sentimento, principalmente quando ele vem daquelas pessoas que ganharam, exatamente isso ganharam, essa parceira durante a vida, eu penso de maneira diferente. A minha cadeira me liberta, me leva para onde eu quero, sem ela eu não poderia trabalhar, estudar, me divertir, sem ela sim eu estaria impossibilitado de exercer um dos direitos mais básicos do ser humano, o direito de ir e vir.

 Eu vejo a cadeira de rodas como uma característica da pessoa, assim como loira, morena, gorda, magra, alta, baixa. Acho que ela reflete um pouco da personalidade do cadeirante, e por isso minhas cadeiras sempre tiveram um toque pessoal como o distintivo do meu time ou um porta copos por exemplo, sendo que a atual parece um fusca e tem uma placa com o meu nome.

 As crianças são as melhores, quando não ficam com medo e fogem de mim, se empolgam, vão pro meu colo e quase me derrubam da cadeira mexendo nos controles, isso quando não perguntam na maior inocência "Porque você anda nessa cadeira?". Quando não respondo que eu não consigo andar igual a ela, digo que tenho preguiça e sou mais esperto que os outros rs.


Mas com certeza as histórias mais divertidas, engraçadas, diferentes e umas até proibidas (não conto nem sob tortura rsrs) vem das baladas que ela frequenta, Vou dividir duas delas com vocês agora.

No auge dos meus 15 anos (nem faz tanto tempo assim vai) estava passando pela minha fase rockeira e fui a um show dos Raimundos levando comigo meu novo motorista em seu primeiro dia de trabalho. Chegando ao local do show - antiga boate fabrica - perguntamos ao segurança se existia algum local adaptado para cadeirantes e, pra variar, a resposta foi negativa, falando que poderíamos ficar encostados na grade que separa o palco da platéia que não haveria problema algum (não sabem de nada os três inocentes rsrsrs).

O local vai enchendo enchendo e momentos antes de começar o show eu já estou sendo "amassado" contra a grade, protegido apenas por meu motorista e os amigos que fizemos lá na hora, quando os músicos começam a tocar seus instrumentos ainda atrás do palco a galera começa a pular e empurrar todo mundo pra frente e nesse momento meu motorista e nossos mais novos, e melhores amigos naquele momento, já estão distribuindo todos os tipos de cotoveladas pra trás para tentar me proteger, o que aquela altura já parecia impossível.

Começa o show e o desespero só aumenta, mais pressão e mais e mais cotoveladas, enquanto isso os seguranças só olhando, inclusive aquele do começo do show. Com berros do chefe da segurança sou arrancado de lá e colocado em cima do palco no meio do show. Enquanto eu sou levado para o fundo do palco para ver o show de lá, meu motorista leva um esporro do chefe da segurança por ter me colocado naquele local ai ele explica que foi orientado por um "competente" membro da equipe dele. Quando o Nilson (que trabalha comigo até hoje como motorista e já virou um irmão) estava voltando para muvuca enquanto eu curtia o show do palco, um segurança, que não viu como ele apareceu no palco, apontou o caminho do camarote e ele, mala como sempre, não perdeu tempo e assistiu ao show de lá.

Durante o show foi tudo tranquilo, os caras do Raimundos vinham falar comigo durante as músicas, perguntavam se eu estava curtindo o show, me ofereciam bebidas ( água e Gatorade somente, eu juro rsrsrs) e foi assim. Depois o Nilson me contou que no camarote rolou um vasto "cardápio" de bebidas e drogas.

O saldo final do show foi eu com meu ouvido zumbindo durante umas duas semanas porque assistir a um show do Raimundos do lado da caixa de som não é mole, e o Nilson com uma baita dor na coluna pelo esforço em me colocar em cima do palco no meio da confusão. Belo batismo pra ele não é mesmo?

Outra história hilária foi no churrasco de reencontro dos colegas do Sigma na casa do Romero. Estava eu lá, curtindo reencontrar o pessoal, colocando os papos em dia, comendo aquela carne e tomando aquela cerva gelada.

A casa do meu brother Romero não é nenhum primor em termos de acessibilidade, mas nada muito grave, acontece que quando senti vontade de ir ao banheiro pedi ajuda ao Kinho e no caminho nós conversávamos sobre o grande Vasco da Gama e eu, ao invés de olhar para frente, estava olhando para ele (já imaginam né? rsrsrs). Perto da piscina não vi um degrau e fui direto e reto, só dando tempo de ouvir o Kinho gritar "Roger!!!!".

Como a cadeira não tem cinto de segurança (a nova já tem) fui parar no fundo da piscina, mas não sem antes bater de cara na quina da piscina, fui retirado na mesma hora mas só depois dos primeiros socorros e que podemos ver os estragos. Corpo todo dolorido e ralado, dente quebrado e olho roxo e inchado.

Quando meu pai chegou à casa do Romero e me viu "todo quebrado" perguntou se estava tudo bem, se eu estava sentindo dores, falei que estava bem apenas com um pouco de dor em todo o corpo, então ele resolveu ficar no churrasco e tomar uma cervejinha acreditam? Pra completar meus prejuízos perdi o casamento religioso dos meus cumpradres Carol e Raoni (aquele mesmo do post anterior) que foi no mesmo dia.

Bem galera essas foram apenas duas das muitas histórias hilárias dessa companheira que me acompanha por toda minha vida, se quiserem saber mais aventuras dela acompanhem o blog, e é por isso que sempre digo: Se minha cadeira falasse..



9 comentários:

  1. Muito bom. Vá registrando tudo pra virar um livro. Qye tal o nome de Cadeira Falante. ..

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  2. Já me falaram isso, estou pensando na idéia...

    P.s Não apareceu o nome de quem comentou

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  3. A amizade acaba se eu rir do seu tombo na piscina? Espero que não, porque ri horrores e você sabe que tenho crise de riso mesmo. hahaha Que chique assisti show do palco! Estou amando seu blog.

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  4. Querida, nossa amizade é muito maior do que qualquer risada que você possa ter dado. Show no palco; cola em mim e vem junto. Também adore seu blog.

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  5. É uma maneira leve e divertida de tratar o assunto. Parabéns! Bjo

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  6. Amo suas histórias e seu jeito leve e positivo de ver a vida.
    Segredo da felicidade: focar no positivo...
    Beijos com muiiito carinho

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  7. A segunda história é hilária? Que horror! Hahahaha, mas confesso que ri :p

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  8. What an awesome blog you have in here. Upon reading it, I can't help myself to smile and of course at the end be inspired. It's really up to us to view life positively.

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